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sábado, 10 de abril de 2021

 


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Amores! Partilhando a pré-venda de nossa livro. Essa primeira leva fomenta nosso trabalho. Nossa live de lançamento que acontecerá pelo canal da @pirulitosecambalhotas no YouTube e terá presenças maravilhosas: os  autores do livro Ana Paula Mira e Yuri Ferraz,  o escritor e pesquisador Marco Haurélio que fez o posfacio do livro e a desigh Raquel Matsushita que trabalhou nosso livro.
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Leo e Lua é narrado no sertão desse Brasil, na casa de uma avó. Quando a chuva ganha vida o que pode acontecer? Já deixou a chuva tomar conta de sua infância? Descubra o que aconteceu nessa história.

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Para quem adquirir nosso livro até o lançamento dia 20.04 ele sai com autógrafo e já incluso o transporte, apenas 44.90. Link ao lado da foto..



sábado, 3 de abril de 2021

Princípio de um artista quando infante




No meu princípio era voz, era  a mão e os cheiros. Ela alimentava-me levando à boca palavras e bolinhos de feijão. Um dia, a Vozinha Eulina resolveu saciar outra fome que ela percebia em mim e me deu livros, quadrinhos. Acontecia sempre quando eu ficava aos seus cuidados. À tarde, quando meu primo não ocupava o quarto onde revistinhas e livros eram guardados. Minha avó era cúmplice dessa invasão. Ela autorizava que minhas mãos passeassem livres por aquele colorido. Eram um tesouro proibido por meu primo. Naquele início eu lia as imagens, ainda não conhecia bem as letras. Mas todas as tardes era naquele mundo que eu morava. Quando chovia e esfriava, minha avó me trazia um cobertor e eu afundava na leitura. Sinto ainda o respingar da água que ao ultrapassar a proteção de telha aspergia em meu rosto. Aroma de terra molhada. Um ou outro dia meu primo me achava com a prova do crime em mãos. Minha avó intercedia a meu favor. Ela dizia que me deixasse ali, pois era quando eu ficava quieta. Fui uma criança bem curiosa e espevitada. Vivia pendurada pelas mangueiras dos quintais de minha avó, criando mundos imaginários. Quando cansava, ia atrás dela, pegava as tintas que sobravam e saía pintando tudo que encontrava em seu quintal.. Não bastava o papel. Neste mês de tantas comemorações do livro infantil, lembro com muito amor de quem me incentivou a ler. Talvez minha avó tenha sentido meu amor pelos livros e percebeu que esse seria meu caminho. Ou ela cumpria sua vocação, pois vinha de uma família de mulheres educadoras. Quando eu tinha treze anos, minha Vozinha Eulina morava em Ilhéus. Ao passar as férias em sua casa, ela me apresentou O Pequeno Príncipe. O livro trouxe as primeiras leituras filosóficas sobre a vida, a amizade e  a despedida. Será que em seu inconsciente minha avó me preparou para a sua morte? Três anos depois ela faleceu. O câncer a levou em poucos meses. Ela veio se despedir, lembro-me da última vez que a vi. Tinha dezesseis anos, estava no ensino médio, naquela época não sabia bem o motivo da visita. Falamo-nos tão rápido, estava tão cheia de tarefas, nem cheguei a mostrar os poemas que construía... Sei que ela gostaria de saber o resultado daquelas tardes longas de infância. Saber que hoje incentivo tantas crianças a ler, escrevendo para elas. Ela ficaria muito feliz. Leitura com afeto deixa marcas leves na alma, traz doçura à vida. Obrigada, Vó, por tudo. Sempre te amarei.


Ana Paula Mira, escritora.

#anapaulamiraautora @ana.paula.mira