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sábado, 13 de março de 2021

O Mundo Passa pelas Flores

 



Comprei uma planta florida. Não sei o nome dela. Nem tenho aplicativo para saber. Acho impessoal buscar seu significado assim. Prefiro o mistério. Algo similar ao que existe no feminino. Essa aura que existe sobre nosso significado, o ser mulher. Não podemos ser traduzidas por aplicativos. Há séculos pesquisadores, filósofos e escritores se debruçam sobre esse assunto, livros, ensaios tratados.  Afinal, que bicho é esse que sangra todo mês? Que ser é esse que tem força para expulsar de seu ventre a humanidade que segue? Como seria se a mulher perdesse a capacidade de reproduzir? Diante da catástrofe que enfrentamos com a pandemia e a morte de tantos hoje? Batemos 2400 mortes. Sem nascimentos, seria a nossa extinção. Quando algo ameaça às gestantes, o primeiro ato é protegê-las. A sociedade se mobiliza para lhes dar condições de parir e humanidade não desaparecer. Cidades mais velhas no mundo viram sua população diminuir, já que o número de jovens é menor que o de idosos, e não nascem tantas crianças.  
Recordo que a planta florida surgiu aqui em casa por conta da visita de uma abelha silvestre. Fui movida a adquirir a planta pelo fato de que as abelhas operárias precisam de alimento para levar para o único ser capaz de dar continuidade à colmeia, a abelha rainha, que é alimentada e cuidada para reproduzir. Quis ajudar a minha visitante.  Só que muitas mulheres grávidas em nosso país não vão contar com essa compreensão, discernimento de seus pares e a proteção necessária. Muitas sofrem violência diária e não têm alimento suficiente, estão desprotegidas. E como ficam essas crianças nascidas em situação tão desfavorável? Qual leitura seus códigos genéticos trarão para o mundo, qual o resultado disso para nosso planeta? Temos muito a aprender com as sociedades dos insetos. E nisso concordo com Manoel de Barros, poeta das miudezas.
Molho minha planta todos os dias, ela gosta da umidade e de ser tocada pelo sol.  Deixo-a próxima à janela. Faz-lhe companhia uma planta chamada Jiboia, que colhi nascendo na calçada de minha rua. Apoiam-se distantes de seu ambiente natural. Uma em cada vaso, distintas e iguais no desejo de continuarem vivas. 


 Ana Paula Mira, escritora.


#anapaulamiraautora @ana.paula.mira

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