Sobe. Desce. Pula. Salta. Dorme. Acorda. Come. Bebe. Seria essa a rotina dos meus felinos, se eles não acrescentassem um substantivo a um desses verbos: livro. Formou-se uma curiosa frase como sua alma felina. Gatos dormem sobre os livros. Preferência pelas pilhas. Observando essa nova mania, meu marido e eu começamos a elucubrar o motivo. Para ele nossos animais fazem isso por sentirem nosso cheiro nas obras. Apaixonada por histórias, penso que eles querem nos imitar por acharem que somos gatos também. Afinal, andamos com esses objetos interessantes por todos os lados e por vezes chegamos a dormir com eles em nosso peito. Gatos e livros. Esse somatório já deu inclusive muitas linhas escritas por diversos escritores. Posso citar alguns. O poeta William Burroughs fez um livro todo dedicado aos seus companheiros. Jorge Luiz Borges tem um poema cujo título é “A um gato”. Nosso Vinicius de Moraes escreveu poesia e musicou esses versos “Com um lindo salto leve e seguro/O gato passa do chão ao muro / Logo mudando de opinião/Passa de novo do muro ao chão..”. E na atualidade conheço muitos outros que mantêm essa tradição de escrever sobre seus companheiros.
Por
isso dormir sobre livros seria já parte do inconsciente felino? Já que são
companheiros constantes de escritores? O gato foi introduzido como animal doméstico
há milhares de anos, algumas fontes citam que na região da África. Vieram bem
depois dos cachorros e preservam ainda muitos resquícios de seu tempo de
liberdade. Os meus perderam muito dessa selvageria ancestral. Amam carinho e
exigem atenção. Tenha um gato e nunca estará sozinho. Eles querem estar perto,
não importa o que estejamos fazendo. Inclusive tivemos que colocar uma barreira
na porta do atelier, ou teríamos de viver com trabalhos destruídos. Amam marcar
com suas patinhas pinturas recém-feitas ou sentar nas teclas do computador.
Seria essa então a razão de gostarem tanto dos livros a ponto de dormirem sobre
eles? Explico-lhe. É nesses momentos que lhes damos mais carinho, é quando
estamos tranquilos, sem distrações, e muitas vezes partilhamos com eles alguma
descoberta do que estamos lendo. Seria isso? Associaram livros ao aconchego? Ao
acolhimento? As crianças também são assim, em horas de leitura chegam em busca
de carinho. Ler é respiro, é partilha. Enquanto escrevo meu gato Spike me
acompanha com seus olhos. Saberia que hoje ele é o personagem de minha escrita?
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